sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pão e Circo

Faz dois meses que a Alice come. Começou com frutas e agora come também papinhas. Além do almoço, passou a jantar. Então durante o dia, além das mamadeiras de leite, almoça, come sobremesa (que é sempre fruta), toma suco, come fruta à tarde, janta e dependendo do apetite e dos horários, come mais alguma frutinha, toma um chá...
Essa semana começou a comer coisinhas com a mão. Já comeu casquinhas de biju e biscoitão de polvilho. Não pode, né, eu sei.... A pediatra indicou que eu desse gominhos de laranja pra ela comer com as mãos... Mas ela parece ter puxado a mim; tem mais curiosidade por porcarias... E eu, por minha vez, como vivo com uma porcaria nas mãos... Acabo influenciando negativamente nesse sentido.
Na verdade eu me rendi à essa coisa de dar alguma “coisinha que fosse” pra Alice comer por que ela deu uma diminuída no interesse pelas refeições e está progressivamente tornando, pelo menos o horário de almoço e jantar dela, um circo.
Sempre defendi uma rotina de horários, lugar e hábitos na hora de comer. Na hora de comer o principal é a comida, o objetivo é comer. Simples assim. Acontece que não tem sido assim aqui em casa.
Antes de começar a alimentar a Alice com algo além do leite, li um livro interessante sobre papinhas que ensina a fazer comidas naturais e congelar em forminhas de gelo... Então eu cozinho cenoura, por exemplo, processo e coloco em forminhas de gelo (que eu comprei só pra essa finalidade). Depois de congelado eu desenformo e coloco num saquinho (daqueles pra alimento) com o nome do alimento e a data do cozimento e mantenho no freezer. É bacana por que dá pra ir selecionando e misturando cubinhos diferentes para cada refeição. Posso misturar um de músculo (como eu disse antes, mesmo sendo vegetariana estou cozinhando e oferecendo carnes pra Alice), um de mandioquinha e um de couve flor com brócolis. Posso repetir a carne e modificar legumes e hortaliças ou manter os vegetais e alterar carnes... Brincar com as combinações.
Bom... É bem importante dizer que eu não sou nenhuma alquimista na cozinha. Sei fazer poucos pratos e os aprendi separando os ingredientes nos pesos e porções indicados pela receita de cada um e errando muito antes de acertar... Os dias mais desanimadores são aqueles quando eu estou super inspirada, separo os ingredientes, executo a receita com perfeição e a comida fica uma gororoba... Mais que vergonhoso é realmente desanimador cozinhar quando isso acontece. Dá tristeza mesmo.
Com a Alice acho que está acontecendo isso. Às vezes, quando ela se recusa a comer eu analiso a comida e concluo que a mistura de cubinhos que eu fiz não combinava... Ou que as proporções deixaram a comida pesada, inssossa, forte demais, fedida... Depois comecei a questionar essa coisa de congelar...
Insatisfações à parte, comecei a elaborar estratégias mil para fazer com que a Alice comesse. Afinal das contas, ela tem que se nutrir (eis aqui a diferença entre a profissional e a mãe...Não consegui escapar dessa... Educar crianças em ambiente coletivo de educação é uma coisa, mas educar filho, o pequeno tirano da casa é completamente diferente). Pois é.
O circo começou a quando percebi que a cada refeição eu cantava e repetia incansavelmente todas as músicas que sei cantar e no momento mais engraçado de cada uma, quando Alice sorria eu tascava a colherada de papa na boca e ela engolia ainda dando risadinhas, na maior inocência e sem intenção de comer; apenas comia rápido para continuar curtindo as cantorias. Tentei também levar brinquedinhos para os momentos das refeições mas a sujeira foi tanta que eu nem insisti e fiz isso só uma vez. A gota d’água foi quando me peguei sentada numa cadeira lá na varanda de frente pra rua enfiando colheradas de papa na boca da Alice enquanto ela se assustava com uma moto, um cavalo ou um carro que passava. Isso é sacanagem e não tem nada a ver com o desenvolvimento de hábitos alimentares. Nada mesmo. Além de ser super cansativo pra nós duas.
Me rendi então às papinhas Nestlé sugeridas pela minha mãe. Minha mãe sempre diz: “Filha, eu sei que não é o que você quer, mas acostuma a menina com tudo que no dia que você precisar ela não estranha”... Ok, ok... Dei a tal da papinha Nestlé pra ela provar e ela devorou o dobro do que costuma comer da comida que eu preparo sem dar tapas na colher, sem que eu tivesse que ficar rouca de tanto cantar e sem fazer tanta sujeira... O juízo dessa situação aconteceu no consultório da Pediatra que afirmou que a papinha Nestlé é boa, natural, sem conservantes... Pra quê...Passei no mercado e contei as moedas...Comprei todos os vidrinhos que meu dinheiro permitiu. Ainda tentei cozinhar mas em momentos de crise a papinha sempre vem pra me salvar...
Mas a consciência começou a pesar e vontade de superar a condição de mulher que não sabe nem cozinhar para a própria filha invadiu minhas cibernéticas intenções de pesquisa e eu voltei a pesquisar procurando por uma luz. Minha irmã aconselhou: “procura no youtube como é que faz em casa a papinha da Nestlé”. Nem cheguei a procurar e o destino dessas páginas que a gente vai deixando abertas sem nem saber quem foi que abriu (tem os gatos, aqui em casa eles andam sobre o teclado do meu computador)me mostraram um caminho interessante.
No site da Editora Abril sobre gravidez e maternidade ( www.bebe.com.br) que acompanhei desde a gravidez, encontrei uma indicação interessante de leitura que compartilharei aqui. O livro “A panela amarela de Alice” conta parte da história de uma mulher (Tatiana Damberg, a autora) que curte muito cozinhar e usa seu talento culinário para alimentar sua pequena filha de nome também ALICE.
Bem... Vale à pena comprar o livro pra quem quer se aventurar com especiarias e misturas um tanto quanto exóticas (outras nem tão exóticas). Ler a história da mãe de primeira viagem e das suas descobertas, atimanhas e dificuldades fez com que eu me sentisse bastante acolhida e quisesse mais uma vez voltar a tentar cozinhar com sensibilidade atrelada à técnica. Digo que tentei.
A primeira receita que segui foi um desastre. Alice (a minha) berrava com raiva, deixou todos em casa bravos comigo por que eu, que estava bem triste, cansada e estressada com aquela situação, tentei forçá-la a comer (embora eu saiba, e não é de hoje, que isso não se faz). Decidi parar de tentar fazer coisas que pra mim eram muito diferentes e voltei às papinhas da Nestlé.
Já mais calma, retomei a leitura do livro na esperança de encontrar uma base de trabalho na cozinha sobre a qual eu pudesse me sair bem. Foi ótimo por que aprendi coisas bem bacanas:
• A primeira foi a de usar uma tabela com os elementos que devem conter nas papinhas e todas as possíveis variações. É bacana por que ela passa uma lista bem básica, que serve como ponto de partida pra quem, como eu, não tem muita noção de misturas, combinações... Com o tempo, podemos ir acrescentando na lista coisas que vamos nós mesmas inserindo no cardápio;
• A segunda e valiosa orientação que Tatiana me deu no livro foi a seguinte: a papa deve ser DOURADA, COZIDA E PROCESSADA (ou amassada, como quiser cada mãe, cada filho). Tava aí uma novidade.
Eu jamais dourava nada na comida dela.... Azeite, cebola e temperos? Nem pensar... E a Alice devia retrucar enquanto gritava com raiva tentando resistir à entrada das colheradas na boca: Comida sem dourar a cebola e sem sal? Nem pensar!
Posso estar sendo otimista demais mas já fiz duas papinhas e ela está comendo com prazer, com atenção e interesse pela comida. Não preciso mais cantar. A não ser, é claro, pelo prazer de ver a minha querida sorrindo.

E quem quiser, pode acompanhar mais da Tatiana em seu site chamado “mixirica” no endereço: http://mixirica.uol.com.br/



2 comentários:

  1. Alho, cebola, um tico de sal(marinho, de preferência) e azeite - se vc fizer uma comidinha pra você mesma sem isso, certamente vai achar ruim, né? Então, a Alice também!e depois de um tempo, cheiro verde e manjericão são boas opções de temperos pra ela...tenha paciência - mais um pouco - devagar e sempre, de preferência na mesa, que É o lugar de comer e sem tv...logo logo a bichinha vai estar comendo tudo o q vc der...o calor atrapalha um pouco o apetite também e essa terra é quente demais da conta sô!um beijo bem grande procês!Musa

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  2. os meus cresceram na papinha nestle! :P E hoje, a gente tem a rotina de sentar na mesa e comer juntos, porem há dias que o esgotamento é tanto que deixo eles comerem na frente da tv! Isso é ser humano! :)

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