sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Considerações sobre o meu sexto mês sendo mãe


Pois é. Disseram que o tempo voava e voou mesmo. É claro que isso só é aparente quando se olha para trás pois no dia a dia, cada minuto parece durar mais do que os 60 sagrados segundos marcados por qualquer relógio.
Ainda me sinto com as deformidades físicas de quem acabou de parir (está certo que eu ainda não coloquei em prática nenhum dos meus fabulosos planos fitness para mudar) e a Alice, amanhã, já faz 6 meses... Faz 6 meses que eu entrei em jejum para ir no dia seguinte cedinho para a maternidade; 6 meses que me despedi dos meus gatinhos como se não fôssemos nos ver nunca mais, 6 meses que ganhei uma caixa de Nhá Benta tradicional da Kopenhagen da Nádia, 6 meses que agradeci a Deus por que ia parir em poucas horinhas e não tinha rasgado a barriga com estrias...
Seis meses.
Amanhã minha pequena Alice completa seu primeiro meio ano de vida e eu fiz hoje uma avaliação de quantas coisas que ela já aprendeu e de como ela já se coloca no mundo sendo que há 6 meses atrás ela nem tinha nascido ainda... Ela já dá gritões me chamando quando está com alguém e eu passo reto, dá risadinhas e se esconde quando encontra alguém que gosta, abre a boca quando raspo frutinha mesmo antes que eu tente alimentá-la, ao acordar, coloca-se de bruços e me procura na cama perto do berço e quando nós cruzamos os olhares, ela dá risadinhas e se esconde, dá os braços quando está no carrinho e quer colo...
Essa semana ela fez algo pela primeira vez... Me fez chorar durante a vacina dela. Eu a coloquei deitadinha na maca e ela me olhou antes da agulhada e sorriu mostrando os dois dentinhos debaixo. O sorriso inocente e cheio de cumplicidade, as pernas gordinhas esticadinhas antes da breve dor da picada de injeção me comoveram. O choro dela foi bem rapidinho e o meu... também. Mas doeu. Mesmo sabendo que a vacina é para o bem, ou para prevenir mal indesejável.
Seis meses que sou mãe. Óh Deus...Escravidão voluntária e eterna. Amor incondicional com uma pitada de medo e ela está quase engatinhando.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Possessão


Dois dias antes da Alice nascer eu fui com a minha mãe visitar um berçário na Vila Mariana onde eu a colocaria caso continuasse morando e trabalhando por ali (decisão tomada depois de visitar alguns tantos berçários e colocar na balança a questão do serviço prestado, empatia com os profissionais e preço,acho que esse papo rende uma próxima postagem, já que eu trabalho nisso).
Lembro-me que durante a visita a dona do berçário disse pra eu pensar bem se colocaria a Alice tão novinha...Eu pensei que fosse voltar ao trabalho imediatamente após a recuperação do parto, pensei que meu único impedimento para conseguir um emprego fosse a barriga mas estou descobrindo que não...Existe um preconceito danado com mãe solteira de bebê novinho.... Ainda mais mãe que precisa do emprego pra se reencontrar na vida. Pois bem... Lemro-me das palavras daquela dona de escola prevendo o meu futuro... Ela disse assim: ”assim que o bebê nasce, a gente vira um leão”. Achei aquilo radical, ridículo e pensei que comigo a coisa seria um pouco mais amena... Afinal das contas eu sou profissional que trabalha com educação institucionalizada de crianças pequeninas e tiraria de letra mil questões que as outras mães não tiram... Obviamente não considerei que estaria tornando-me mãe pela primeira vez.
Essa leoa nasceu em mim junto com a Alice, que, coincidentemente, é do signo de Leão. Bem... Já que eu passei a primeira noite na maternidade cuidando dela o tempo todo... Não parei mais e assumi todos os cuidados desde então, que eram basicamente amamentar (esse tinha que ser só comigo mesmo...), trocar fraldas, dar banho, pegar no colo, fazer dormir, depois dar mamadeiras, frutas, papinhas....
Me deixava e ainda me deixa bastante incomodada quando alguém vem me dizer o que fazer: “faz isso ou faz mais assim....” Isso é um saco... Fico pensando que no fundo as pessoas querem ajudar, compartilhar suas experiências... Mas tem aquele negócio que cada criança é uma criança e o maior desafio de virar mãe e ir ficando cada vez mais mãe é conhecer e tentar (inutilmente) estabelecer uma rotina pro bebê.... Acho que a ansiedade da mãe não é estabelecer a rotina, mesmo por que os bebês não vão se submetendo assim, facilmente, às nossas ordens só por que somos mães... A maior ansiedade é identificar qual é a rotina da criança pra gente tentar se organizar, se planejar mesmo que seja um pouquinho, dormir mesmo que seja um pouquinho ou saber que vamos ter aqueles 15 minutos livres pra sei lá... fazer “nada” com mais propriedade...
Aí vem alguém, qualquer alguém (família, amigos, moça da farmácia, vizinha que você encontra pela segunda vez no elevador) e te diz: “faz assim” e vai embora.... Ah... Não dá. Sou eu quem fica acordada, quem recebe olhares feios se ela chora por mais minutos que as pessoas julgam serem toleráveis, sou eu quem decide um monte de coisas... Então esses conselhos, por mais interessantes que possam parecer, geram em mim mais revolta e um sentimento de fracasso do que simpatia...
Isso tudo sem falar no fato de que a Alice fará 6 meses daqui há 10 dias e digo... Passa tão rápido que não dá vontade nenhuma de delegar as coisas pra terceiros... Os momentos de esgotamento total acabam cedendo a que alguém prepare uma mamadeira, alguém passeie no Sol um pouquinho com ela, alguém que faça algo pra que eu possa fazer outra coisa...
No meio do turbilhão incessante da depressão, tive um sentimento cruel. Minha mãe estava com a Alice e eu almoçava... Já tinha terminado o almoço mas estava à mesa sentada com meus irmãos... Minha mãe veio me trazer Alice de volta e eu disse do fundo do meu coração que não a queria naquele momento. Minha mãe continuou seu passeio com ela achando essa a resposta mais normal do mundo mas percebi nos meus irmãos um certo olhar interrogativo... Refleti no calor da ação e respondi o que talvez nunca um terapeuta conseguisse tirar de mim (mesmo porquê eu não faço terapia): respondi que minha vontade era guardar às vezes a Alice numa caixinha e só pegar de novo quando eu estivesse mais disposta e mais feliz. Isso pra não perder, pra não deixar de curtir nem um pouquinho essa pessoazinha que cresce e se desenvolve tão rápido... Sentimento bastante egoísta, eu sei. Mas ser mãe também tem dessas coisas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Alaranjado mamão


Isso mesmo. Alice entrando no quarto mês de vida e durante a consulta médica uma surpresa: hora de começar com suco e frutas. Deus do céu, o que parecia uma realidade tão distante ia começar entre hoje mesmo e amanhã.
A lista era simples: suco de laranja lima pela manhã e quatro frutas poderiam se revezar no meio da tarde: maçã, mamão, banana ou pêra.
Na volta da médica já passei num hortifruti pra selecionar as primeiras frutas que a Alice conheceria. Escolhi cada uma com um carinho imenso sabendo da importância e do valor delas para nossas vidas. A sensação: um misto de felicidade e tristeza, talvez um pouco de medo. O tempo passa rápido demais e de repente a pequena que só tomava leite e às vezes água ou chá passaria a ter um cardápio e a fazer uso de talher, potinhos e outros utensílios que ainda estou descobrindo...
Pois bem. De acordo com a pediatra, Alice poderia reagir com estranheza natural ao conhecer, ao experiemntar pela primeira vez uma fruta... Poderia tentar expulsar da boca não apenas por não gostar do sabor, da textura, mas acima de tudo por estar descobrindo, também, o caminho do alimento pois a gente coloca na boca, degusta, engole e digere... Todo esse caminho é novo e as sensações envolvidas no ato de comer pela primeira vez então, nem se fala. Para a minha surpresa, tanto o suco com a primeira fruta foram aceitos e consumidos em sua porção completa. Os dias foram se passando e ela passou a comer cada vez com mais familiaridade, passei a perceber quais as suas preferências, passei a entender que com determinadas frutas ela faz cocô mais duro, mais ou menos cocô ou então fica com o cocô molinho.... Lógico que todo mundo sabe que maçã prende e mamão solta mas é bacana descobrir isso com a nossa cria, conhecer aquele corpinho de bebê como ninguém e perceber cada detalhe... É lindo e gostoso ver o bebê crescer; ao mesmo tempo já vai dando saudades daquele bebezinho tão dependente que vai mudando todos os dias... Mas de crescimento e desenvolvimento não se pode reclamar, afinal das contas, a gente reza, reza, reza (mesmo eu, que não sou lá de rezar) pro filho da gente crescer forte e saudável.
Pois bem... Muito bonito esse negócio de comer mas na hora de lavar a roupa também tive novas aprendizagens... Eu sempre comprei sabão bom pra lavar roupas e sempre joguei tudo na máquina... Foram raras as vezes que não fiquei satisfeita com a qualidade das lavagens ou que destinei blusa nova ao armário dos pijamas por saber que ela jamais voltaria a ter aquela brancura ou perfeição, por que se tem coisa que eu nunca fiz, foi esfregar roupa... Ah... Eu nunca precisei esfregar roupa não... Minhas sujeiras sempre se resolveram no molho da máquina...
Mas com filho não dá... Me decepcionou tirar da máquina os paninhos de boca completamente pintadinhos de alaranjado mamão... A gente até pode ficar esculhambada mas o bebezinho tem que ficar limpinho, cheiroso e todas as coisinhas também... É um pouco da coisa de brincar de boneca, como se virar mãe fosse brincadeira...
Pensando assim foi que eu passei a usar o tão famoso “Vanish” (que não encontra mancha sozinho e não tira completamente a mancha não...a gente tem é que esfregar, mas o produto ajuda sim... Ajudaaa!) e passei também a esfregar os paninhos com as mãos, lavar com água quente... Dá trabalho e não fica perfeito mas é o que eu tenho conseguido fazer.
Depois de um mês adaptando-me à vida de mãe de bebê que come, em outra consulta com a pediatra, outro susto: hora de começar com as papinhas salgadas... Deus do céu... Ainda estou no meio desse turbilhão e já descobri que a Alice não gosta muito de carne branca (tenho especial dificuldade com a questão da carne, pois sou vegetariana e fico refletindo sobre isso desde a gravidez...http://casandroni.blogspot.com/2009/06/o-que-alice-come-o-que-alice-vai-comer.html)e que eu tenho que dar umas duas ou três vezes a mesma papinha pra ela reconhecer o sabor e curtir, querer mais... Dá trabalho sim.
O mais gostoso disso tudo foi o dia que eu descobri dentinhos rasgando a gengiva... A coisa mais linda do mundo. Muito gostoso poder curtir esse processo. Eu amo de paixão as gengivinhas e aquele sorriso inocente e banguelo dos bebês mas acompanhar o crescimento dos dentinhos é delicioso...Ela sofreu um pouquinho, teve cocô mole e ficou chorona nos dias mais chatinhos e doloridos mas agora está bem. É sentir minha filhotinha virando gente; uma mulherzinha.