quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Possessão


Dois dias antes da Alice nascer eu fui com a minha mãe visitar um berçário na Vila Mariana onde eu a colocaria caso continuasse morando e trabalhando por ali (decisão tomada depois de visitar alguns tantos berçários e colocar na balança a questão do serviço prestado, empatia com os profissionais e preço,acho que esse papo rende uma próxima postagem, já que eu trabalho nisso).
Lembro-me que durante a visita a dona do berçário disse pra eu pensar bem se colocaria a Alice tão novinha...Eu pensei que fosse voltar ao trabalho imediatamente após a recuperação do parto, pensei que meu único impedimento para conseguir um emprego fosse a barriga mas estou descobrindo que não...Existe um preconceito danado com mãe solteira de bebê novinho.... Ainda mais mãe que precisa do emprego pra se reencontrar na vida. Pois bem... Lemro-me das palavras daquela dona de escola prevendo o meu futuro... Ela disse assim: ”assim que o bebê nasce, a gente vira um leão”. Achei aquilo radical, ridículo e pensei que comigo a coisa seria um pouco mais amena... Afinal das contas eu sou profissional que trabalha com educação institucionalizada de crianças pequeninas e tiraria de letra mil questões que as outras mães não tiram... Obviamente não considerei que estaria tornando-me mãe pela primeira vez.
Essa leoa nasceu em mim junto com a Alice, que, coincidentemente, é do signo de Leão. Bem... Já que eu passei a primeira noite na maternidade cuidando dela o tempo todo... Não parei mais e assumi todos os cuidados desde então, que eram basicamente amamentar (esse tinha que ser só comigo mesmo...), trocar fraldas, dar banho, pegar no colo, fazer dormir, depois dar mamadeiras, frutas, papinhas....
Me deixava e ainda me deixa bastante incomodada quando alguém vem me dizer o que fazer: “faz isso ou faz mais assim....” Isso é um saco... Fico pensando que no fundo as pessoas querem ajudar, compartilhar suas experiências... Mas tem aquele negócio que cada criança é uma criança e o maior desafio de virar mãe e ir ficando cada vez mais mãe é conhecer e tentar (inutilmente) estabelecer uma rotina pro bebê.... Acho que a ansiedade da mãe não é estabelecer a rotina, mesmo por que os bebês não vão se submetendo assim, facilmente, às nossas ordens só por que somos mães... A maior ansiedade é identificar qual é a rotina da criança pra gente tentar se organizar, se planejar mesmo que seja um pouquinho, dormir mesmo que seja um pouquinho ou saber que vamos ter aqueles 15 minutos livres pra sei lá... fazer “nada” com mais propriedade...
Aí vem alguém, qualquer alguém (família, amigos, moça da farmácia, vizinha que você encontra pela segunda vez no elevador) e te diz: “faz assim” e vai embora.... Ah... Não dá. Sou eu quem fica acordada, quem recebe olhares feios se ela chora por mais minutos que as pessoas julgam serem toleráveis, sou eu quem decide um monte de coisas... Então esses conselhos, por mais interessantes que possam parecer, geram em mim mais revolta e um sentimento de fracasso do que simpatia...
Isso tudo sem falar no fato de que a Alice fará 6 meses daqui há 10 dias e digo... Passa tão rápido que não dá vontade nenhuma de delegar as coisas pra terceiros... Os momentos de esgotamento total acabam cedendo a que alguém prepare uma mamadeira, alguém passeie no Sol um pouquinho com ela, alguém que faça algo pra que eu possa fazer outra coisa...
No meio do turbilhão incessante da depressão, tive um sentimento cruel. Minha mãe estava com a Alice e eu almoçava... Já tinha terminado o almoço mas estava à mesa sentada com meus irmãos... Minha mãe veio me trazer Alice de volta e eu disse do fundo do meu coração que não a queria naquele momento. Minha mãe continuou seu passeio com ela achando essa a resposta mais normal do mundo mas percebi nos meus irmãos um certo olhar interrogativo... Refleti no calor da ação e respondi o que talvez nunca um terapeuta conseguisse tirar de mim (mesmo porquê eu não faço terapia): respondi que minha vontade era guardar às vezes a Alice numa caixinha e só pegar de novo quando eu estivesse mais disposta e mais feliz. Isso pra não perder, pra não deixar de curtir nem um pouquinho essa pessoazinha que cresce e se desenvolve tão rápido... Sentimento bastante egoísta, eu sei. Mas ser mãe também tem dessas coisas.

4 comentários:

  1. Olá, Calau.
    Não sei nem que jeito, achei seu outro blog, li inteiro, e agora, acebi de ler esse aqui tb.
    Gostei muuuuuito das suas palavras sinceras, da sua troca de experiência.
    Obrigada por dividir seu dia a dia com a Alice.
    Eu, que estou prestes a receber a Laura, adorei ver e reler suas dicas.
    Bjokas, Fabi.

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  2. Que bacana, Fabi! Obridaga por prestigiar minhas memórias, desabafos e declarações de amor e muito boa saúde e tranquilidade na chegada da Laurinha!

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  3. Carol, tenho acompanhado um pouquinho do crescimento da Alice através deste blog e tenho acompanhado também "um poucão" da sua mudança! Incrivel ver como você se tornou uma super-mãe! Você sabe muito bem como também não gosto de palpites de qualquer um, mas lembra quantas dicas e toques legais você me dava sobre as situações que eu passava com os meus bebês?!! Então amiga, não se feche tanto às opiniões e sugestões que te dão. Muitas vezes elas nos incomodam, mas qdo paramos para refletir, percebemos que muitas vezes o incomodo apareceu justamente por nos mostraem que estavamos indo pelo caminho errado ou mais dificil. Beijos. Ana

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  4. Aiai Ana.... Só você pra tentar me convencer a ser uma pessoa melhor! Beijos com muitas saudades! Carol

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